Daniel 12 — Aproxima-se o Momento
Culminante da História
Versículo
1: Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos
do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve
nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele
que for achado inscrito no livro.
Neste
versículo se apresenta certo tempo, não um ano, um mês ou dia determinado, mas
um tempo definido por certo acontecimento com o qual se relaciona. “Nesse
tempo”. Que tempo? O tempo a que somos levados pelo versículo final do capítulo
anterior, o tempo em que o rei do norte armará as tendas palacianas no monte
santo e glorioso. Quando isto ocorrer, virá seu fim. E então,
segundo este versículo, havemos de esperar que Se levante Miguel, o grande
Príncipe.
Miguel Se
levanta — Quem é Miguel, e que
significa o ato de levantar-Se? Miguel é chamado o “Arcanjo” em Judas 9. Isso
significa o chefe ou cabeça dos anjos. Há só um. Quem é? É Aquele cuja voz se
ouve do céu quando ressuscita os mortos. (1 Tessalonicenses 4:16). A voz de
Quem, se ouve, em relação com que acontecimento? A voz de nosso Senhor Jesus
Cristo. (João 5:28). Quando buscamos a verdade baseados neste fato, chegamos à
seguinte conclusão: A voz do Filho de Deus é a voz do Arcanjo; portanto, o
Arcanjo deve ser o Filho de Deus. Mas o Arcanjo se chama Miguel; logo, Miguel
deve ser o nome dado ao Filho de Deus. A expressão do versículo 1: “Miguel, o
grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo”, basta para identificar
como o salvador dos homens o personagem aqui mencionado. É o “Autor da vida”
(Atos 3:15), e “Príncipe e Salvador” (Atos 5:31). Ele é o grande
Príncipe.
“O defensor
dos filhos do teu povo” — Condescende em tomar os
servos de Deus em seu pobre estado mortal e remi-los para serem súditos de Seu
reino futuro. Levanta-Se a favor de nós, os que cremos. Seus filhos são
essenciais aos Seus propósitos futuros e parte inseparável da herança comprada.
Hão de ser os principais agentes daquela alegria que Cristo previu, e que o
levou a suportar todos os sacrifícios e sofrimentos que assinalaram Sua
intervenção em favor da raça caída. Assombrosa honra! Tributemos-Lhe eterna
gratidão por Sua condescendência e misericórdia para conosco! Sejam dEle o
reino, o poder e a glória para todo o sempre!
Chegamos agora à segunda pergunta: Que
significa o ato de Miguel levantar-Se? A chave para interpretar esta expressão
nos é fornecida nestas passagens: “Eis que ainda três reis se levantarão na
Pérsia”, “Depois, se levantará um rei poderoso, que reinará com grande
domínio.” (Daniel 11:2, 3) Não pode haver dúvida quanto ao significado da
expressão nestes casos. Significa assumir o reino, reinar. No versículo que
consideramos, esta expressão deve significar o mesmo. Naquele tempo Se
levantará Miguel, tomará o reino e começará a reinar.
Mas não está Cristo reinando agora? Sim,
associado com Seu Pai no trono do domínio universal. (Efésios 1:20-22;
Apocalipse 3:21). Mas Ele renuncia a esse trono, ou reino ao voltar (1 Coríntios
15:24). Então começa Seu reinado, apresentado no texto, quando Se levanta, ou
assume Seu próprio reino, o trono de há muito prometido a Seu pai Davi, e
estabelece um domínio que não terá fim. (Lucas 1: 32, 33).
Os reinos deste mundo passam a ser “de nosso
Senhor e do Seu Cristo”. Ele deixa de lado Suas vestes sacerdotais e veste o
manto real. Terá terminado a obra de misericórdia e o tempo de graça concedido
à família humana. Então o que estiver sujo não mais terá esperança de ser
purificado; o que estiver santo não mais terá perigo de cair. Todos os casos
estarão decididos para sempre. Daí em diante, até que Cristo venha nas nuvens
do céu, as nações serão quebrantadas como com vara de ferro e despedaçadas como
vaso de oleiro por um tempo de tribulação que nunca houve. Uma série de
castigos divinos cairá sobre os homens que rejeitaram a Deus, então aparecerá
no céu o Senhor Jesus Cristo “em chamas de fogo, para tomar vingança dos que
não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho.” (2 Tessalonicenses 1:8; ver
Apocalipse 11:15; 22:11, 12).
Portentosos são os acontecimentos introduzidos
pelo ato de Miguel ao levantar-Se. Ele Se levanta, ou assume o reino,
assinalando a certo tempo antes de voltar pessoalmente a esta Terra. Quão
importante é, pois, que saibamos que posição Ele ocupa, a fim de poder seguir o
processo de Sua obra e reconhecer quando se aproxima esse momento emocionante,
em que acabará Sua intercessão em favor da humanidade e o destino de todos se
fixará para sempre!
Como podemos sabê-lo? Como havemos de
determinar o que ocorre no santuário celestial? A bondade de Deus é tão grande
que nos pôs às mãos o meio de saber isso. Ele nos disse que quando certos
grandes acontecimentos ocorrem na Terra, decisões importantes estarão sendo
feitas no Céu que sincronizam com eles. Mediante as coisas que se veem somos
instruídos acerca das coisas que não se veem. Assim como “através da natureza
chegamos ver o Deus da natureza”, mediante fenômenos e acontecimentos
terrestres seguimos os grandes movimentos que se realizam no reino celestial.
Quando o rei do norte plantar as tendas do seu palácio entre os mares no monte
glorioso e santo, então Miguel Se levantará ou receberá de Seu Pai o reino como
preparativo para voltar a esta Terra. Ou poderia expressar-se o assunto nestas
palavras: Então nosso Senhor cessa Sua obra como nosso grande Sumo Sacerdote e
termina o tempo de graça concedido ao mundo. A grande profecia dos 2.300 dias
com exatidão nos indica o início da etapa final da obra que Cristo há de
realizar no santuário celestial. O versículo que consideramos nos dá indicações
pelas quais podemos descobrir aproximadamente o tempo em que terminará.
O tempo de
angústia — Em relação com o momento
em que Se levantará Miguel, ocorre um tempo de angústia qual nunca houve. Em
Mateus 14:21 lemos acerca de um período de tribulação qual nunca houve nem
haverá depois. Esta tribulação, que se cumpriu na opressão e perseguição da
igreja pelo poder papal, já se acha no passado, ao passo que o tempo de
angústia de Daniel 12:1 ainda está no futuro, segundo a opinião que
expressamos.
Como pode haver dois tempos de tribulação,
separados por muitos anos, sendo ambos maiores do que qualquer que tenha
existido antes ou haja de existir depois? Para evitar qualquer dificuldade
aqui, notemos cuidadosamente esta distinção: A tribulação mencionada em Mateus
é tribulação sobre a igreja. Cristo está falando ali a Seus discípulos e deles
em um tempo futuro. Eles iam ser os afetados e por sua causa seriam abreviados
os dias de tribulação. (Mateus 24:22). O tempo de angústia mencionado em Daniel
não é um tempo de perseguição religiosa, mas de calamidade internacional. Nunca
houve coisa semelhante desde que houve nação; não diz igreja. É a última
tribulação que sobrevirá ao mundo em sua condição atual. Em Mateus se faz
referência a um tempo que transcorrerá depois daquela tribulação, porque uma
vez que ela tenha passado, o povo de Deus não voltará a passar por outro
período de sofrimento semelhante. Mas aqui em Daniel não há referência a nenhum
tempo futuro depois da angústia mencionada, porque esta encerra a história
deste mundo. Inclui as sete últimas pragas de Apocalipse 16 e culmina no
aparecimento do Senhor Jesus, vindo em nuvens de fogo, para destruir os Seus inimigos.
Mas desta tribulação será livrado todo aquele cujo nome se achar escrito no
livro da vida, “porque no monte Sião [...] estarão os que forem salvos assim
como o Senhor prometeu, e entre os sobreviventes aqueles que o Senhor chamar.”
Joel 2:32.
Versículo
2: Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna,
e outros para vergonha e horror eterno.
Este
versículo revela a importância do ato de Miguel levantar-Se, ou o começo do
reino de Cristo, referido no primeiro versículo deste capítulo, pois nesse
tempo haverá uma ressurreição dos mortos. É esta a ressurreição geral que
ocorre na segunda vinda de Cristo? Ou há de ocorrer entre o momento em que
Cristo recebe Seu reino e Sua manifestação à Terra com toda a glória do Seu advento
(Lucas 21:27), uma ressurreição especial que corresponda à descrição aqui
feita?
Porque
não seria a primeira, ou seja, a ressurreição que ocorre ao se ouvir a última
trombeta? Porque somente os justos, com exclusão de todos os ímpios, terão
parte nessa ressurreição. Então os que dormem em Jesus sairão, mas os outros
mortos não reviverão durante mil anos (Apocalipse 20:5). Portanto, a
ressurreição geral de toda a espécie humana fica dividida em dois grandes
acontecimentos. Primeiro ressuscitam exclusivamente os justos quando Jesus
vier; e em segundo lugar ressuscitam exclusivamente os ímpios, mil anos mais
tarde. A ressurreição geral não é uma ressurreição mista, dos justos e dos
ímpios ao mesmo tempo. Cada uma destas duas classes ressuscita em separado e o
tempo que transcorre entre suas respectivas ressurreições é de mil anos,
segundo está claramente indicado.
Mas na ressurreição apresentada no versículo
que estudamos, muitos, tanto dos justos como dos ímpios, ressuscitam
juntamente. Não pode, portanto, ser a primeira ressurreição que inclui somente
os justos, nem a segunda, que se limita distintamente aos ímpios. Se o texto
dissesse: Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão para a vida
eterna, então a palavra “muitos” poderia interpretar-se como incluindo a todos
os justos e esta ressurreição seria a dos justos, na segunda vinda de Cristo.
Mas o fato de que alguns dos muitos são ímpios e ressuscitam para vergonha e
desprezo eterno, impede tal explicação.
Ocorre, pois, uma ressurreição especial ou
limitada? Indica-se, em alguma outra parte, que haja de ocorrer tal
acontecimento antes que o Senhor venha? A ressurreição aqui predita ocorre
quando o povo de Deus é liberto do grande tempo de angústia com que termina a
história deste mundo; e de Apocalipse 22:11 pareceria depreender-se que esta
libertação ocorre antes do aparecimento do Senhor. Chega o momento terrível em
que o sujo e injusto é declarado injusto ainda, e o santo ainda o que é justo e
santo. Quando for pronunciada esta sentença sobre os justos deve ser o seu
livramento, porque então estão fora do alcance do perigo e do temor do mal.
Mas, naquele momento, o Senhor ainda não veio, porque imediatamente acrescenta:
“Eis que venho sem demora.”
Quando se
pronuncia esta declaração solene, ela sela o destino dos justos para a vida
eterna e o dos ímpios para a morte eterna. Sai uma voz vinda do trono de Deus,
dizendo: “Está feito.” (Apocalipse 16:17). Esta é, evidentemente, a voz de
Deus, tão frequentemente aludida nas descrições das cenas relacionadas com o
último dia. Joel fala disso, dizendo: “O Senhor brama de Sião, e Se fará ouvir
de Jerusalém, e os céus e a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do Seu
povo, e a fortaleza dos filhos de Israel.” Joel 3:16. Uma nota marginal de certas
versões da Bíblia diz: “lugar de refúgio, ou porto”. Então, quando se ouve a
voz de Deus que fala do céu, precisamente antes da vinda do Filho do homem,
Deus é um refúgio para Seu povo, ou, o que é o mesmo, lhes provê livramento. A
última cena estupenda está por manifestar-se a um mundo condenado, Deus dá às
nações assombradas outra prova e garantia do Seu poder e ressuscita dentre os
mortos uma multidão de seres que durante longo tempo dormiam no pó da
terra.
Assim vemos que há oportunidade e lugar para a
ressurreição de Daniel 12:2. Um versículo do livro de Apocalipse claramente
indica que há de ocorrer uma ressurreição desta classe. “Eis que vem com as
nuvens [descreve-se indubitavelmente o segundo advento], e todo olho O verá
[das nações que então vivem na Terra], até quantos O traspassaram [os que
tomaram parte ativa na terrível obra de Sua crucifixão]. E todas as tribos da
Terra se lamentarão sobre Ele.” (Apocalipse 1:7). Se não fosse feita exceção
para o seu caso, os que crucificaram o Senhor permaneceriam em suas sepulturas
até o fim dos mil anos e ressuscitariam juntamente com os demais ímpios nessa
ocasião. Mas aqui se nos diz que eles contemplam o Senhor em Seu segundo
advento. Portanto, há de haver uma ressurreição especial para esse fim.
É certamente muito apropriado que alguns dos
que se distinguiram por sua santidade, que trabalharam e sofreram pela
esperança que tinham na vinda do seu Salvador, mas morreram sem O haver visto,
ressuscitem um pouco antes, para testemunharem as cenas que acompanham Sua
gloriosa epifania; assim como saiu um bom número do sepulcro para contemplar
Sua gloriosa ressurreição e escoltá-Lo (Mateus 27:52, 53) em triunfo até a
destra do trono da Majestade nos céus (Efésios 4:8, nota marginal). Também os
que se distinguiram na maldade, os que mais fizeram para vilipendiar o nome de
Cristo e injuriar Sua causa, especialmente aqueles que Lhe deram morte cruel na
cruz e dEle zombaram e O ridicularizaram na agonia de Sua morte, alguns destes
ressuscitarão como parte de seu castigo judicial, para contemplar Sua volta nas
nuvens do céu, como vencedor celestial, com grande majestade que não poderão
suportar.
Alguns consideram que este versículo
proporciona boas provas de que os ímpios sofrem eternamente em forma consciente,
porque os ímpios, aqui referidos, saem para vergonha e desprezo eterno. Como
podem sofrer para sempre vergonha e desprezo, a não ser que estejam eternamente
conscientes? Na verdade esta vergonha implica que estão conscientes, mas
note-se que isto não há de durar para sempre. Este qualificativo só se aplica
ao desprezo, emoção que os demais sentem para com os culpados, e não torna
necessário o estado consciente daqueles contra os quais se dirige. A vergonha
de sua impiedade e corrupção atormentará suas almas enquanto estiverem
conscientes. Quando pereçam, consumidos por suas iniquidades, seu repugnante
caráter e suas obras culpáveis excitarão somente desprezo da parte dos justos
enquanto os recordarem. Portanto, o texto não proporciona prova alguma de que
os ímpios tenham de sofrer eternamente. Versículo 3: Os sábios, pois, resplandecerão como o resplendor do
firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas,
sempre e eternamente. (Almeida RC)
Herança
gloriosa — A nota marginal diz
“ensinadores” em lugar de “sábios”. Os que ensinam resplandecerão
como o fulgor do firmamento. É claro que isto se refere aos que ensinam a
verdade e levam outros a conhecê-la, precisamente no tempo em que se cumprirão
os eventos registrados nos versículos anteriores. De acordo com a maneira de o
mundo calcular lucros e perdas, custa algo ensinar a verdade nestes tempos.
Custa reputação, comodidade, conforto e frequentemente propriedades. Envolve
labor, cruzes, sacrifícios, a perda de amigos, o ridículo, e muitas vezes
perseguição.
Com frequência se pergunta: Como podeis
guardar o verdadeiro dia de repouso e talvez perder vosso cargo, reduzir vossas
entradas e até correr o risco de perder vosso meio de sustento? Que miopia,
fazer da obediência às exigências de Deus um assunto de consideração
pecuniária! Que conduta diferente da seguida pelos nobres mártires que não
amaram sua vida até a morte! Quando Deus dá uma ordem, não podemos atrever-nos
a desobedecer. Se nos perguntarem: Como podeis guardar o sábado e cumprir
outros deveres que significam obedecer à verdade?, só precisamos perguntar, em
resposta: Como podemos atrever-nos a não fazê-lo?
No dia vindouro, quando perderem a vida os que
tiverem procurado salvá-la e os que tiverem estado dispostos a arriscar tudo
por amor à verdade e seu divino Senhor, receberem a gloriosa recompensa
prometida nesta passagem, e ressuscitarem para resplandecer como o firmamento e
como as estrelas para sempre, ver-se-á quem terá sido sábio e quem terá feito
sua escolha cega e insensatamente. Os ímpios e os mundanos hoje consideram os
cristãos como insensatos e loucos e se lisonjeiam de terem uma inteligência superior
para escapar ao que chamam loucura e evitar perdas. Não precisamos
responder-lhes, pois os que agora tomam essa decisão, dentro em breve a
quererão mudar, com ansiedade, mas inutilmente.
Enquanto
isso, é privilégio do cristão desfrutar as consolações desta maravilhosa
promessa. Unicamente os mundos estelares nos podem proporcionar um conceito de
sua magnitude. Que são essas estrelas, a cuja semelhança os ensinadores de
justiça hão de brilhar para sempre e eternamente? Quanto esplendor, majestade e
duração inclui esta comparação?
O Sol do nosso próprio sistema solar é uma
dessas estrelas. Se o comparamos com este globo em que vivemos e que nos
proporciona a comparação mais compreensível, verificaremos que é um orbe de não
pouca magnitude e magnificência. Nossa Terra tem 12.000 quilômetros de
diâmetro, mas o diâmetro do Sol é de 1.440.000 quilômetros. É 1.300.000 vezes
maior que nosso globo. E seu peso equivale a 333.000 mundos como o nosso. Que
imensidão! E que sabedoria e poder foi necessário para criar tantas
maravilhas!
Contudo, está muito longe de ser o maior ou
mais brilhante dos orbes dos céus. A proximidade do Sol, que fica apenas a
155.000.000 de quilômetros de nós, permite que ele exerça sobre nós uma
influência controladora. Porém na vastidão do espaço, tão distantes que parecem
simples pontinhos de luz, fulguram outros orbes maiores de maior glória. A
estrela fixa mais próxima, Próxima Centauro, no hemisfério sul,
fica a uns quarenta bilhões de quilômetros de distância. Mas a estrela Polar e
seu sistema ficam cem vezes mais longe e fulgura com brilho igual ao de 2.500
sóis como o nosso. Outros ainda são muito luminosos, como por exemplo Arcturo,
que emite luz equivalente a 158 sóis como o nosso; Capela, 185 e assim
sucessivamente, até que chegamos à grande estrela Rigel, na constelação do
Órion, que inunda os espaços celestes com um fulgor 15.000 vezes maior que o do
ponderado orbe que ilumina e controla nosso sistema solar. (James H. Jeans, The
Stars in Their Courses, p. 165).
Por que
não nos parece mais luminoso? Porque sua distância equivale a 33.000.000 de
vezes a órbita da Terra, que é de 310.000.000 de quilômetros. As cifras se
tornam débeis para expressar tais distâncias. Basta dizer que sua luz deve
atravessar o espaço à velocidade de 310.000 quilômetros por segundo durante um
prazo superior a dez anos antes de alcançar nosso mundo. E há muitas outras
estrelas que se encontram a centenas de anos-luz de nosso sistema solar.
Alguns destes monarcas dos céus reinam sós
como o nosso próprio Sol. Alguns são duplos, isto é, o que nos parece ser uma
única estrela compõe-se de duas estrelas, ou seja, dois sóis com todo o seu
séquito de planetas, girando um em redor do outro. Outros são triplos, alguns
quádruplos e pelo menos um é sêxtuplo.
Ademais,
mostram todas as cores do arco-íris. Alguns sistemas são brancos, outros azuis,
outros vermelhos, outros amarelos, outros verdes. Em alguns, os diferentes sóis
que pertencem ao mesmo sistema são de cores diferentes. Diz o Dr. Burr: “E,
como para fazer do Cruzeiro do Sul o objeto mais belo de todos os céus,
encontramos nessa constelação um grupo de mais de cem astros diversamente
coloridos: sóis vermelhos, verdes, azuis e verde-azulados, tão estreitamente
acumulados que num poderoso telescópio se assemelham a um soberbo ramalhete ou
uma jóia fantástica.” (Enoc Fitch Burr, Ecce Coelum, p. 136).
Alguns anos se passam e todas as coisas
terrenas adquirem o bolor da idade e o odor da decadência. Mas as estrelas
continuam brilhando em toda a sua glória como no princípio. Séculos e idades se
foram, reinos surgiram e desapareceram. Voltamo-nos para trás, muito além do
sombrio e obscuro horizonte da história, chegamo-nos ao primeiro momento em que
a ordem foi evocada do caos, quando “as estrelas da alva juntas alegremente
cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam” (Jó 38:7) e encontramos então
que as estrelas seguiam em sua soberba marcha. Não sabemos desde quanto tempo o
faziam. Os astrônomos nos falam de nebulosas que se encontram nos mais
longínquos limites da visão telescópico, cuja luz em seu voo incessante
precisaria de cinco milhões de anos para chegar a este planeta. No entanto, nem
seu brilho nem sua força diminuem. Parecem sempre dotados do orvalho da
juventude. Não há neles fator algum de decadência, nem movimento vacilante que
revele decrepitude. Continuam a brilhar com glória inefável por toda a
eternidade.
Assim os que a muitos ensinarem a justiça
resplandecerão numa glória que infundirá alegria no coração do Redentor. E
assim transcorrerão seus anos para sempre e eternamente.
Versículo
4: Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim;
muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará.
O livro de Daniel selado — As “palavras” e o “livro” dos quais se fala aqui, são
indubitavelmente as coisas que foram reveladas a Daniel nesta profecia. Estas
coisas haviam de permanecer encerradas e seladas até ao tempo do fim, quer
dizer, não deviam ser estudadas de modo especial, ou entendidas em sua maior
parte, até aquele tempo. O tempo do fim, como já foi demonstrado, começou em
1798. Como o livro esteve fechado e selado até esse tempo, é claro que naquele
tempo, ou a partir desse ponto, o livro seria aberto. As pessoas poderiam
compreendê-lo melhor e sua atenção seria especialmente atraída para esta parte
da Palavra inspirada. Não é preciso recordar ao leitor o que desde aquele tempo
se tem feito com referência à profecia. As profecias, especialmente as de
Daniel, têm sido examinadas por muitos estudantes deste mundo onde quer que a
civilização entendeu sua luz sobre a Terra. De modo que o restante do
versículo, sendo uma predição do que deve ocorrer após o início do tempo do
fim, diz: “Muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se
multiplicará.” (Almeida RC). Quer este correr de uma parte para outra se refira
ao traslado de pessoas de um lugar a outro e aos grandes progressos nos meios
de transporte e de locomoção alcançados no século passado, quer signifique, como
alguns entendem, que percorreriam as profecias, ou seja, buscariam fervorosa e
diligentemente a verdade profética, o certo é que nossos olhos contemplam seu
cumprimento. Deve encontrar sua aplicação num destes dois modos. E em ambos os
aspectos nossa época notavelmente se destaca.
O aumento do
conhecimento — “E o saber se
multiplicará.” Isto deve referir-se à multiplicação do conhecimento em geral, o
desenvolvimento das artes e ciências, ou a um aumento do conhecimento referente
às coisas reveladas a Daniel, que haviam de ficar encerradas e seladas até o
tempo do fim. Aqui novamente, qualquer que seja a aplicação que dermos, o
cumprimento é notável e completo. Consideremos as admiráveis produções da mente
e as formidáveis obras das mãos humanas, que rivalizam com os mais ousados
sonhos dos magos antigos, mas que se desenvolveram nos últimos cem anos apenas.
Nesse período se progrediu mais em todos os ramos científicos, e mais
progressos foram feitos nas comunidades humanas, na rápida execução dos trabalhos,
na transmissão dos pensamentos e palavras, nos meios de viajar rapidamente de
um lugar a outro e até de um continente a outro, que durante os três mil anos
anteriores.
Maquinaria
agrícola — Comparem-se os métodos de
colheita que são praticados em nossa época com o antigo método de colher à mão
feito nos dias de nossos avós. Hoje uma só máquina corta, debulha e coleta em
bolsas os cereais e os deixa prontos para o mercado.
Navios
modernos e guerra mecanizada — A guerra moderna usa
navios poderosos de superfície e submarinos, como também aviões de bombardeio e
de caça que nem sequer eram sonhados a meados do século passado. Os tanques e
os caminhões, a artilharia motorizada e outros implementos substituíram os
animais e aríetes dos antigos.
A estrada de
ferro — A primeira locomotiva construída nos EUA
foi fabricada na fundição West Point, Nova York, e começou a funcionar em 1830.
Atualmente houve tanto progresso nas estradas de ferro que os trens
aerodinâmicos chegam a velocidades de 160 quilômetros por hora.
Os
transatlânticos — Somente um século após
iniciar a navegação a vapor, os maiores transatlânticos podem cruzar o oceano
entre a Europa e a América em quatro dias. Oferecem todos as comodidades que se
encontram nos hotéis mais luxuosos.
A televisão — Depois veio a radiotelegrafia, um milagre, em 1896. Por volta de
1921, essa descoberta se desenvolveu na propagação radiotelefônica. Agora a
televisão, a transmissão sem fio do que se vê e se ouve, até de projeções
cinematográficas nas ondas etéreas, é uma realidade nacional.
O automóvel — Não faz muito o automóvel era desconhecido. Agora toda a
população dos EUA poderia estar viajando ao mesmo tempo de automóvel. Certos
automóveis de corrida têm alcançado velocidades superiores a 500 quilômetros
por hora. Enormes ônibus de passageiros cruzam os continentes, e nas grandes
cidades substituíram os bondes elétricos.
A máquina de
escrever — O primeiro modelo da
máquina de escrever moderna foi posto a venda em 1874. Agora as máquinas
velozes e silenciosas destinadas tanto ao escritório como à residência
adaptam-se a todo tipo de escrita e tabelas, e vieram a ser uma parte
indispensável dos equipamentos comerciais.
A imprensa moderna —
Para ter uma ideia do progresso feito neste ramo basta pôr em contraste a
imprensa manual que Benjamim Franklin usava com as rotativas de alta velocidade
que imprimem os diários a um ritmo duas vezes mais rápido que o de uma
metralhadora.
A câmara
fotográfica — O primeiro retrato de um
rosto humano feito com o auxílio do sol foi obra do professor João Guilherme
Draper de Nova York em 1840, mediante um aperfeiçoamento do processo de Niepce
e Daguerre, os criadores franceses da fotografia. Desde 1924, graças ao
aperfeiçoamento das lentes e as emulsões tem-se tirado fotos de grandes
distâncias e de vastas extensões, desde aviões que voavam a grande altura.
Podem tirar-se fotografias de objetos invisíveis a olho nu mediante os raios X
e os raios infravermelhos. A fotografia colorida fez também muitos progressos.
Desde seu início em 1895, a cinematografia chegou a exercer uma poderosa
influência na vida de milhões de pessoas. Foram aperfeiçoadas as câmaras
fotográficas e outras para tirar a cores e são produzidas a preços reduzidos
que as colocam ao alcance das multidões.
A
aeronavegação — A conquista do espaço
pelo homem foi realizada pelo aeroplano em 1903. É um dos mais notáveis
triunfos da história. Serviços regulares de passageiros e de correios foram
estabelecidos através do oceano entre todos os continentes.
O telefone — A primeira patente de telefone foi concedida a Alexandre Graham
Bell em 1876. Desde então se têm estendido redes intrincadas de telefone por
todos os continentes para vincular os povos e as pessoas.
Máquinas
tipográficas — Estas produziram uma
revolução na arte de imprimir. A primeira máquina que compôs tipo mecanicamente
foi patenteada na Inglaterra em 1822 pelo Dr. Guilherme Church. Das muitas
máquinas introduzidas desde então, as que se usam atualmente são máquinas que fundem
seus próprios tipos, como a linotipo inventada por Mergenthaler (1878), e a
monotipo, inventada em Lanston em 1885.
A composição
à distância — Mediante uma combinação
de telégrafo e máquinas fundidoras de linha, agora é possível que um operário
situado numa estação central componha material para a imprensa por telégrafo
simultaneamente, a qualquer distância e em tantos lugares quantos estejam
vinculados à estação central. Isto permite compor as notícias com uma economia
de 50 a 100 por cento.
As pontes
suspensas — A primeira ponte suspensa
que mereça ser lembrada nos EUA foi construída sobre o rio Niágara em 1855. A
ponte da Porta de Ouro, que cruza a entrada da baía de São Francisco, foi
terminada em 1937 ao custo de 35.000.000 de dólares, tem o maior arco do mundo,
a saber 1.275 metros. Feitos semelhantes na construção de pontes foram
realizados em todos os países progressistas do mundo.
Eis uma lista parcial dos progressos feitos
nos conhecimentos desde o tempo do fim iniciado em 1798:
Iluminação a gás, 1798; penas de aço, 1803;
fósforos, 1820; máquina de costura, 1841; anestesia por éter e clorofórmio,
1846; cabo submarino, 1858; a metralhadora Gatling, 1861; navio de guerra
blindado, 1862; freios automáticos nos trens, 1872; sismógrafo, 1880; turbina a
vapor, 1883; raios X, 1895; radium, 1898; telefone transcontinental,
1915.
Que galáxia de maravilhas surgidas na mesma
época! Quão admiráveis são as proezas científicas de nossa era, sobre a qual
todas estas descobertas e invenções concentram sua luz! Chegamos realmente à
era da multiplicação do saber.
Para honra do cristianismo, notemos em que
países e por quem foram feitas estas descobertas que tanto contribuíram para
tornar a vida mais fácil e mais cômoda. Tem sido em países cristãos e entre
cristãos, desde a grande Reforma. Não podem ser estes progressos creditados à
Idade Média, que proporcionou só um disfarce do cristianismo; nem aos pagãos,
que em sua ignorância não conhecem a Deus, nem aos habitantes das terras
cristãs que negam a Deus. Na verdade, o espírito de igualdade e liberdade
individual estimulado pelo evangelho de Cristo, quando pregado em sua pureza
original, é o que liberta o corpo e o espírito dos seres humanos, convida-os ao
máximo uso de suas faculdades e torna possível uma era de liberdade de
pensamento e ação capaz de realizações tão admiráveis.
O aumento do
conhecimento da Bíblia — Mas se assumirmos outro
ponto de vista e interpretarmos a multiplicação do saber como aumento do
conhecimento da Bíblia, apenas importa olharmos para a luz maravilhosa que nos
resplandeceu sobre as Escrituras durante o último século e meio. O cumprimento
da profecia se tem revelado na história. O emprego de um seguro princípio de
interpretação levou à indiscutível conclusão de que o fim de todas as coisas
está próximo. Na verdade o selo do livro foi tirado e aumentou admiravelmente o
conhecimento acerca do que Deus revelou em Sua Palavra. Cremos ser neste
aspecto que a profecia mais especialmente se cumpre, pois somente numa era sem paralelo
como a atual poderia a profecia cumprir-se.
Que estamos no tempo do fim o demonstra
Apocalipse 10:2, onde se vê um poderoso anjo descer do céu com um livrinho
aberto na mão. Já não podia ficar selado o livro dessa profecia, mas seria
aberto e compreendido. Para achar a prova de que o livrinho que ali é dito
estar aberto é o livro aqui encerrado e selado quando Daniel o escreveu, e de
que o anjo entrega sua mensagem nesta geração, ver os comentários sobre
Apocalipse 10:2.
Versículos
5-7: Então, eu, Daniel, olhei, e eis que estavam em pé outros dois, um, de um
lado do rio, o outro, do outro lado. Um deles disse ao homem vestido de linho,
que estava sobre as águas do rio: Quando se cumprirão estas maravilhas? Ouvi o
homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, quando levantou a mão
direita e a esquerda ao céu e jurou, por aquele que vive eternamente, que isso
seria depois de um tempo, dois tempos e metade de um tempo. E, quando se acabar
a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão.
Quando será o fim? — A
pergunta: “Quando se cumprirão estas maravilhas?” se refere, sem dúvida, a tudo
o que foi anteriormente mencionado, inclusive o ato de Miguel levantar-Se, o
tempo de angústia, o livramento do povo de Deus e a ressurreição especial, do
versículo 2. A resposta parece dar-se em duas partes. Primeiro, é assinalado um
período profético específico; segue-se um período profético indefinido antes
que se chegue à conclusão de todas estas coisas, assim como o encontramos em
Daniel 8:13, 14. Quando se perguntou : “Até quando durará a visão [...] na qual
era entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?” a resposta
mencionou um período de 2.300 dias, seguido de um período indefinido que
abrangeria a purificação do santuário. Assim, no texto que consideramos é
indicado o período de um tempo, tempos e metade de um tempo, a saber, 1.260
anos e logo um período indefinido para continuar a destruição do poder do povo
santo, antes da consumação.
Os 1260 anos assinalam o período da supremacia
papal. Por que se introduz este período aqui? Provavelmente porque esta
potência é a que tem feito mais que qualquer outra na história do mundo para
destruir o poder do povo santo, ou seja, oprimir a igreja de Deus. Mas que devemos
entender pela expressão: “Quando se acabar a destruição do poder do povo
santo”? ou como diz a Nova Versão Internacional: “Quando o poder do povo santo
for finalmente quebrado.” Em algumas versões se traduz esta frase assim:
“Quando ele acabar a dispersão” etc., e nesse caso o pronome “ele” parece
designar “Aquele que vive eternamente”, ou seja Jeová. Mas, como diz
judiciosamente um eminente intérprete das profecias, ao considerar os pronomes
da Bíblia devemos interpretá-los de acordo com os feitos do caso e com
frequência devemos relacioná-los com um antecedente compreendido, em vez de um
nome expresso. De modo que aqui o chifre pequeno, ou homem do pecado, depois de
ter sido introduzido pela menção particular do tempo de sua supremacia, os
1.260 anos, deve ser o poder a que se refere o pronome ele. Durante
1260 anos oprimiu cruelmente a igreja ou lhe dissipou a força.
Depois de lhe ser tirada a supremacia,
permanece sua disposição adversa para com a verdade e seus defensores, é
continua sentindo até certo ponto seu poder e prossegue sua obra de opressão na
medida do que lhe é possível, mas até quando? Até o último dos acontecimentos
apresentados no versículo 1, a saber, o livramento do povo de Deus. Uma vez
liberto, os poderes perseguidores já não podem oprimi-lo, sua força já não fica
dispersa, chega-se ao fim das maravilhas preditas nesta grande profecia e todas
as suas predições estarão cumpridas.
Ou, sem
particularmente alterar o sentido, podemos referir o pronome “ele” ao Ser
mencionado no juramento do versículo 7, “Aquele que vive eternamente”, quer
dizer, Deus, pois Ele emprega os agentes dos poderes terrestres para castigar e
disciplinar o Seu povo, e neste sentido se pode dizer que Ele mesmo lhe destrói
o poder. Por intermédio de Seu profeta Ele disse acerca do reino de Israel:
“Ruína, Ruína! A ruínas a reduzirei, até que venha Aquele a Quem ela pertence
de direito.” (Ezequiel 21:27). Também encontramos que “até os tempos dos
gentios se completarem, Jerusalém será pisada por eles.” (Lucas 21:24).
Igualmente significativa é a profecia de Daniel 8:13: “Até quando durará a
visão [...] na qual era entregue o santuário e o exército, a fim de serem
pisados?” Quem as entrega a esta condição? Deus. Por quê? Para disciplinar,
purificar, embranquecer e provar o Seu povo. Até quando? Até que o santuário
seja purificado.
Versículos
8-10: Eu ouvi, porém não entendi; então, eu disse: meu senhor, qual será o fim
destas coisas? Ele respondeu: Vai, Daniel, porque estas palavras estão
encerradas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados,
embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e nenhum
deles entenderá, mas os sábios entenderão.
O livro selado até o fim do tempo — A solicitude de Daniel para entender plenamente tudo o que lhe
fora mostrado nos lembra vividamente as palavras de Pedro quando fala dos
profetas que diligentemente indagaram e inquiriram, procurando compreender as
predições referentes aos sofrimentos de Cristo e a glória que os seguiria.
Diz-nos que “a eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para” nós
ministravam (1 Pedro 1:12). Quão pouco do que alguns dos profetas escreveram
lhes foi permitido entender! Mas nem por isso se recusaram a escrever. Se Deus
lhes pedia isso, sabiam que oportunamente cuidaria de que Seu povo recebesse de
seus escritos todo o benefício que Ele queria que recebesse.
De modo que as palavras aqui dirigidas a
Daniel lhe indicavam que, quando chegasse o devido tempo, os sábios entenderiam
o significado do que ele havia escrito e o aproveitariam. O tempo do fim era o
momento em que o Espírito de Deus haveria de romper o selo deste livro. Era o
tempo durante o qual os sábios entenderiam, enquanto os ímpios, que não têm o
senso dos valores eternos, por ter o coração endurecido pelo pecado,
continuarão cada vez piores e mais cegos. Nenhum dos ímpios entende. Eles
chamam insensatez e presunção os esforços que os sábios fazem para entender e
perguntam: “Onde está a promessa de Sua vinda?” Se alguém perguntar: De que
tempo e de que geração fala o profeta? A resposta sempre deve ser: Do tempo
atual e da geração em que vivemos. Esta linguagem do profeta está recebendo
notável cumprimento.
A redação do versículo 10 parece singular à
primeira vista: “Muitos serão purificados, embranquecidos e provados.” Pode
alguém perguntar: Como poderiam ser purificados e depois embranquecidos ou
provados (como a linguagem parece implicar) quando é a prova que os purifica e
embranquece? A linguagem, sem dúvida, descreve um processo que muitas vezes se
repete na experiência daqueles que, durante esse tempo, vão sendo preparados
para a vinda do Senhor e Seu reino. São purificados e embranquecidos, em
comparação com sua situação anterior. Logo são novamente provados. Maiores
provas lhes são impostas. Se as suportarem, continua a obra de purificação até
alcançarem um caráter mais puro. Chegando a esse estado são novamente provados,
e ainda mais purificados e embranquecidos. Assim o processo continua, até
desenvolverem um caráter que suportará a prova no grande dia do juízo e chegam
a uma condição espiritual que já não necessite de prova.
Versículo
11: Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação
desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias.
Os 1.290 dias proféticos — Aqui se introduz um novo período profético, a saber, o dos 1290
dias proféticos, que segundo a autoridade bíblica deve representar o mesmo
número de anos literais. Pelo contexto, alguns têm deduzido que este período se
inicia com o estabelecimento da abominação desoladora, ou seja, o poder papal,
no ano 538, e consequentemente se estenderia a 1828. Nesta última data nada
encontramos que assinale o término de tal período, mas achamos provas de que
tal período se inicia antes do estabelecimento da abominação papal. Um estudo
do original hebraico indica que o texto deve ser lido assim: “Desde o tempo em
que o contínuo sacrifício será tirado, para se estabelecer a abominação
desoladora, haverá 1.290 dias.”
O ano 508
a.C. — Não nos é dito diretamente até que evento
chegam os 1.290 dias, mas pelo fato de que seu início fica assinalado por uma
obra que irá preparar o terreno para o estabelecimento do papado, é natural
concluir que seu final ficará assinalado pela cessação da supremacia papal. Se
de 1798 voltamos 1.290 anos para trás chegamos ao ano 508. Este período é sem
dúvida mencionado para revelar a data em que foi tirado o contínuo, e é o único
que o revela. Portanto, os dois períodos — o de 1.260 dias e o de 1.290 dias —
terminam juntos em 1798. O último começa em 538, e o primeiro em 508, ou seja,
30 anos antes. Abaixo daremos algumas citações históricas a favor da data de
508.
O batismo de
Clóvis — “Quanto aos escritos de Anastácio [...] há
um que ele dirigiu a Clóvis, rei dos francos, para felicitar a esse príncipe
por sua conversão à religião cristã. Porque Clóvis, primeiro rei cristão dos
francos, foi batizado no dia de Natal de 496, segundo alguns no mesmo dia em
que o papa foi ordenado.” (Archibald
Bower, The History of the Popes, vol. 1, p. 295).
Tomás
Hodgkin diz:
“O resultado desta cerimônia foi
que mudou as relações políticas de todo estado das Gálias. Embora os francos se
encontravam entre as mais incultas e menos civilizadas tribos que cruzaram o
Reno ao oeste, como católicos já lhes estava garantida a bem-aventurança do
clero católico em toda cidade, e aonde ia o clero, seguiam os provinciais
‘romanos’, ou em outras palavras os leigos que falavam latim. Clóvis,
imediatamente após o seu batismo, recebeu uma carta entusiasta de boas-vindas
ao verdadeiro redil, escrita por Avito, bispo de Viena, o eclesiástico mais
eminente do reino burgúndio.” (Tomás Hodgkin, Theodoric the Goth, p. 190,
191).
Clóvis, o primeiro príncipe católico — “É de observar que Clóvis naquele tempo (496) o único príncipe
católico do mundo conhecido no sentido então da palavra católico. Anastácio,
imperador do Oriente, professava o eutiquianismo. Teodorico, rei dos ostrogodos na
Itália, Alarico, rei dos visigodos, e dono de toda a Espanha, e da terça parte
da Gália, assim como os reis dos burgúndios, suevos e vândalos, nas Gálias,
Espanha e África, eram todos dedicados discípulos de Ário. Quanto aos outros
reis dos francos estabelecidos nas Gálias, ainda eram pagãos. Clóvis não era
apenas o único príncipe católico do mundo nesse tempo, mas foi o primeiro rei
que abraçou a religião católica; e isto conferiu ao rei da França o título de
‘Cristianíssima Majestade’, e o de ‘Filho Mais Velho da Igreja’. Mas se
tivéssemos que comparar a conduta e as ações de Clóvis, o católico, com as do
rei ariano Teodorico, esta comparação não redundaria em honra à fé católica
absolutamente. (Archibald
Bower, The History of the Popes, vol. 1, nota ao é da p. 295; ver
também Henrique Hart Milman, History of Latin Christianity, vol. 1,
p. 381-388).
Os príncipes arianos punham os papas em perigo — Efraim Emerton, que foi professor na Universidade de Harvard,
disse:
“No tempo em que os francos
travaram a batalha de Estrasburgo, os bispos da cidade de Roma foram
considerados como os dirigentes da igreja do que fora no Império Ocidental.
Tinham chegado a chamar-se papas e estavam buscando dominar a igreja do
ocidente assim como um rei governava seu povo. Vimos quanto respeito um papa
venerável como Leão podia infundir a rudes destruidores como Átila e Genserico.
Mas os papas sempre tinham sido devotos católicos, opostos ao arianismo aonde
quer que aparecesse. No tempo da conversão do rei franco achavam-se em
constante perigo da parte dos ostrogodos arianos que se tinham estabelecido na
Itália. Teodorico não tinha incomodado a religião de Roma, mas podia
levantar-se um novo rei que buscasse impor o arianismo sobre toda a Itália.
Assim o papa grandemente se alegrou ao saber que os francos, ao converterem-se
recentemente, tinham aceito sua forma de crença cristã. Dispôs-se a abençoar
qualquer empreendimento deles como obra de Deus, uma vez que se dirigisse
contra os arianos a quem considerava piores que os pagãos. Assim por volta do
ano 500 iniciou, entre o papado romano e o rei franco, um entendimento que
havia de amadurecer em íntima aliança e contribuir muito para fortalecer toda a
história futura da Europa.” (Efraim
Emerton, Introduction to the Study of the Middle Ages, p. 65, 66).
A conversão de Clóvis foi um contratempo para os
arianos — “O evento que aumentou os
temores de todos os reis arianos, e que não deixou a cada um deles a esperança
que a de ser o último que fosse devorado, foi a conversão de Clóvis, o rei
pagão dos francos.” (Tomás Hodgkin, Theodoric the Goth, p.
186).
Uma aliança
bárbara contra Clóvis — “Os reis dos bárbaros
foram [...] convidados a unir-se em uma ‘aliança de paz’, para deter as
agressões ilícitas de Clóvis que os deixava a todos em perigo.” (Idem, p. 198,
199).
“Formar tal confederação e
vincular todas as antigas monarquias arianas contra este estado católico
ambicioso que ameaçava absorvê-las, foi o principal propósito de Teodorico.”
(Idem, p. 194).
Clóvis inicia uma guerra religiosa — “A ação diplomática de Teodorico foi imponente para impedir a
guerra; pode até ser que motivou Clóvis a atacar rapidamente antes de formarem
uma coalizão contra ele. Em uma assembleia de sua nação (talvez o ‘Campo de
Marte’), no início de 507, declarou impetuosamente: ‘Considero muito incômodo
que estes arianos dominem uma parte tão grande das Gálias. Vamos e vençamos com
a ajuda de Deus e sujeitemos a terra.’ A declaração agradou a toda a multidão e
o exército reunido marchou ao sul até Loira.” (Idem, p. 199).
Clóvis
derrota os visigodos — “A próxima campanha do
rei franco teve muito maior importância e êxito. Estava empenhado a provar sua
fortuna contra o jovem rei dos visigodos, cuja fraqueza pessoal e
impopularidade para com os súditos romanos o tentaram como casus belli as
perseguições arianas de Alarico, que, como seu pai Eurico, era mau senhor para
seus súditos católicos. [...] Em 507 Clóvis declarou guerra aos
visigodos.” (Carlos Oman, The Dark Ages, p. 62).
“Não se sabe por que a explosão
tardou até o ano 507. Que o rei dos francos foi o agressor é coisa certa. Achou
facilmente um pretexto para iniciar a guerra como campeão e protetor do
cristianismo católico contra as medidas absolutamente justas que Alarico tomava
contra seu clero ortodoxo traidor. [...] Na primavera de 507, ele [Clóvis]
cruzou repentinamente o Loira e marchou a Poitiers. [...] A quinze quilômetros
de Poitiers, os visigodos tinham ocupado suas posições. Alarico adiou o início da
batalha porque esperava as tropas ostrogodas, mas como estas foram dificultadas
pelo aparecimento de uma frota bizantina em águas italianas, resolveu lutar e
não bater em retirada, como a prudência aconselhava. Durante a perseguição o
rei dos godos morreu, diz-se, em mãos de Clóvis (507). Com esta derrota
terminou para sempre o domínio dos visigodos na Gália.” (The Cambridge Medieval
History, vol. 1, p. 286).
“É evidente, pela linguagem de Gregório de
Tours, que este conflito entre os francos e os visigodos foi considerado pelo
partido ortodoxo de seu tempo e de outros anteriores, como uma guerra
religiosa, da qual, do ponto de vista humano, dependia que prevalecesse o credo
católico ou o ariano na Europa ocidental.” (Gualterio C. Perry, The Franks, From Their First Appearance in History
to the Death of King Pepin, p. 85).
“508. Pouco depois destes eventos, Clóvis
recebeu do imperador grego Anastácio os títulos e a dignidade de nobre e cônsul
romano, embora parece que o imperador, ao outorgá-los, foi compelido mais por
seu ódio ao ostrogodo Teodorico que pelo amor que tinha para com o franco
inquieto e usurpador. O significado destes títulos antiquados, quanto à sua
aplicação aos que não tinham nenhuma relação direta com qualquer divisão do
Império Romano, não foi jamais completamente explicado. [...] O sol de Roma
havia-se posto. Mas ainda descansava sobre o mundo o crepúsculo de sua
grandeza. Os reis e guerreiros germanos recebiam com prazer e portavam com
orgulho um título que os ligava àquela cidade imperial, de cujo domínio
universal, de cuja habilidade no manejo das armas e nas artes, viam os
vestígios por toda a parte.” (Idem, p. 88, 89).
“Em 508 Clóvis recebeu em Tours as insígnias
do consulado que lhe enviara o imperador oriental Anastácio, mas o título era
puramente honorífico. Clóvis passou os últimos anos de sua vida em Paris, que
tornou a capital do seu reino.” (Encyclopedia Britannica, 11ª ed., art.
“Clóvis”, vol. 6, p. 563).
Fim da resistência ariana. Fora eliminado o
reino visigodo, mas focava ainda a aliança das potências arianas sob Teodorico.
Alarico havia contado com a ajuda de Teodorico, mas ela falhou. No ano
seguinte, em 508, Teodorico dirigiu-se contra Clóvis e ganhou a vitória, depois
da qual inexplicavelmente fez a paz com ele, e terminou a resistência das
potências arianas.” (Tomás
Hodgkin, Theodoric the Goth, p. 202, 203; Nugent Robinson, A History of the
World, vol. 1, p. 75-79, 81, 82).
Significado das vitórias de Clóvis — A eminência que Clóvis tinha alcançado no ano 508 e o
significado de suas vitórias para o futuro da Europa e da igreja, eram tão
grandes que os historiadores não podem passar por alto sem fazer comentários.
“A sua conquista não foi uma
conquista temporal. O reino dos godos ocidentais e dos burgúndios passaram a
ser o reino dos francos. Finalmente chegaram invasores que iam permanecer.
Estava decidido que os francos e não os godos tinham de dirigir os desígnios
futuros da Gália e Alemanha, e que a fé católica, e não o arianismo, havia de
ser a religião desses grandes reinos.” (Richard W. Church, The Beginning of the Middle Ages, p. 38, 39).
“Clóvis foi o primeiro a unir todos os
elementos dos quais se formaria a nova ordem social, a saber, os bárbaros, a
quem estabeleceu no poder; a civilização romana, à qual tributou homenagem
recebendo as insígnias de nobre e de cônsul das mãos do imperador Anastácio; e
finalmente a igreja católica, com a que formou a aliança frutífera que
continuaram seus sucessores.” (Victor
Duruy, The History of the Middle Ages, p. 32.
Preparou a aliança da Igreja com o Estado — “Nele [Clóvis] uniam-se as religiões, e duas épocas do mundo.
Quando ele nasceu, o mundo romano ainda era uma potência; sua morte assinala o
amanhecer da Idade Média. Ele ocupou o cargo vago de imperador oriental e
preparou o caminho para o que Carlos Magno aperfeiçoou: a fusão da civilização
romana com a germana, a aliança da Igreja e o Estado.” (Júlio von
Pfluk-Harttung, A History of All Nations, vol. 2, p. 72).
Clóvis
salvou a igreja do paganismo e do arianismo —
“Ele [Clóvis] tinha demonstrado em todas as ocasiões que era um implacável foragido,
conquistador ambicioso, tirano sanguinário; mas por sua conversão tinha
preparado o triunfo do catolicismo; salvou a igreja romana dos perigos de
Escila e Caríbdis, que eram a heresia e o paganismo, firmou-a sobre uma rocha
no próprio centro da Europa, e fixou suas doutrinas e tradições nos corações
dos conquistadores do Ocidente.” (Gualterio C. Perry, The Franks, From Their First Appearance in
History to the Death of King Pepin, p. 97).
Fundamento
da igreja medieval — “Os resultados da
ocupação da Gália [pelos francos] foram tão importantes, o império que
fundaram, sua aliança com a igreja, suas noções legais e suas instituições
políticas, tudo isto exerceu uma tão decisiva influência sobre o futuro que sua
história merece consideração à parte. [...] Eles receberam a herança política
do Império Romano, na verdade a honra de transmiti-la toscamente e muito menos
extensa e eficientemente; entretanto, foi uma continuação real da obra política
que Roma havia estado fazendo. Eles só representam aquela unidade que Roma
estabelecera, e enquanto essa unidade permaneceu como fato definido, foram os
francos que a mantiveram. [...] Sua carreira inicia apenas no fim do século V,
e então, como sucede amiúde em casos semelhantes, é o gênio de um homem, um
grande caudilho, o que cria a nação. [...] Clóvis [...] aparece como um dos
grandes espíritos criadores que dão uma nova direção ao curso da história.
[...] O terceiro passo de grande importância neste processo de união foi dado também
por Clóvis. Uma instituição produzida no mundo antigo antes dos germanos nele
entrarem, tinha nascido com vida forte e ampla influência, até mesmo com poder
que crescia lentamente, através de todas as mudanças deste período caótico. No
futuro seria um poder ainda maior e exercer uma influência ainda mais ampla e
mais permanente que a dos francos. [...] Era a igreja romana. Seria uma
grande potência eclesiástica do futuro. Portanto, era uma questão muito
especial saber se os francos, que por sua vez se desenvolveriam numa grande
potência política do futuro, seriam aliados desta outra potência ou opostos a
ela [...]
“Esta questão foi decidia por
Clóvis, não muito depois de começar sua carreira, ao se converter ao
cristianismo católico. [...] Nestas três maneiras, portanto, Clóvis exerceu uma
influência criadora sobre o futuro. Uniu os romanos e os germanos numa base de
igualdade, e ambos os povos conservaram a fonte de sua força para formar uma
nova civilização. Fundou uma potência política que em si seria quase todo o
continente, e acabar com o período das invasões. Estabeleceu a estreita aliança
entre as duas grandes forças controladoras do futuro, os dois impérios que
continuaram a unidade que Roma tinha criado, o império político e
eclesiástico.” (Jorge
Burton Adams, Civilization During the Middle Ages, p. 137-144).
Assim no
ano 508 terminou a resistência unida que se opunha ao desenvolvimento do
papado. A questão da supremacia entre os francos e os godos, entre a religião
católica e a ariana, tinha ficado decidida a favor dos católicos.
Versículos
12-13: Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco
dias. Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás e, ao fim dos
dias, te levantarás para receber a tua herança.
Os 1.335 dias proféticos — Introduz-se aqui ainda outro período profético, que abrange
1.335 anos. Podemos dizer quando começa e termina? A única chave que temos para
solucionar a questão é o fato de que se fala dele em ligação imediata com os
1.290 anos, que começaram em 508, como se demonstrou. A partir desse ponto, diz
o profeta, haverá 1290 anos. A frase seguinte diz: “Bem-aventurado o que espera
até 1.335 dias.” Mas, a partir de que ponto? Indubitavelmente, do mesmo ponto
que o do início dos 1.290 anos, a saber, 508. A menos que sejam contados desse
ponto, é impossível situá-los e devem ser excetuados da profecia de Daniel,
quando lhes aplicamos as palavras de Cristo: “Quem lê, entenda.” Mateus 24:15.
Deste ponto se estenderiam até 1843, pois a soma de 508 com 1335 dá 1843.
Começando na primavera da primeira data, terminam na primavera da última.
Mas alguém perguntará: Como sabemos que já
terminaram, se no fim desses dias Daniel se levanta para receber sua herança, o
que alguns entendem ser a ressurreição dos mortos? Esta pergunta se baseia num
duplo equívoco. Em primeiro lugar, afirma-se que os dias no fim dos quais
Daniel se levanta são os 1.335 dias; e em segundo lugar, que o levantamento de
Daniel é sua ressurreição, o que também não se pode afirmar. A única coisa
prometida para o fim dos 1.335 dias é uma bênção para os que aguardam e chegam
até esse tempo, isto é, aos que então estiveram vivos.
Que bem-aventurança é essa? Olhando para o ano
1843, quando esses anos terminaram, que contemplamos? Vemos um notável
cumprimento da profecia na grande proclamação da segunda vinda de Cristo.
Quarenta e cinco anos antes começou o tempo do fim, o livro foi aberto e
começou a aumentar a luz. Por volta de 1843 grandiosamente culminou toda a luz
que fora derramada sobre os diversos assuntos proféticos. A proclamação se
realizou com grande poder. A nova e comovente doutrina do estabelecimento do
reino de Deus abalou o mundo. Nova vida foi comunicada aos verdadeiros
discípulos de Cristo. Os incrédulos ficaram condenados, as igrejas eram
provadas e se despertou um reavivamento sem igual desde esse tempo.
Foi esta a bênção? Escutemos as palavras do
Salvador: “Bem-aventurados os vossos olhos”, disse aos Seus discípulos, “porque
veem; e vossos ouvidos, porque ouvem.”(Mateus 13:16) Também disse a Seus
discípulos que profetas e reis desejaram ver as coisas que eles viam e não as
viram. Mas lhes disse: “Bem-aventurados os olhos que veem as coisas que vós
vedes.” Se uma nova e gloriosa verdade era nos dias de Cristo uma bênção para
os que a recebiam, por que não o seria igualmente em 1843?
Pode-se objetar que os participantes desse
movimento ficaram desapontados em sua expectativa. O mesmo aconteceu com os
discípulos de Cristo por ocasião de Sua primeira vinda. Eles O aclamaram em Sua
entrada triunfal em Jerusalém, esperando que tomasse o reino. Mas o único trono
ao qual Ele subiu foi a cruz e em vez de ser admitido como rei num palácio, Seu
corpo inerte foi deixado no sepulcro novo de José. Contudo, foram “bem-aventurados”
por haverem recebido as verdades que tinham ouvido.
Pode-se também objetar que essa não foi uma
bem-aventurança suficiente para ser assinalada por um período profético. Por
que não, já que o período em que há de ocorrer, o tempo do fim, é introduzido
por um período profético; já que nosso Senhor, no versículo 14 de Sua grande
profecia de Mateus 24, anuncia este movimento de forma especial; e já que
também é apresentado em Apocalipse 14:6, 7, sob o símbolo de um anjo voando
pelo meio do céu com um anúncio especial do Evangelho eterno aos habitantes da
Terra? Por certo a Bíblia dá muita importância a este movimento.
Mais duas questões devem notar-se brevemente:
A que dias se refere o versículo 13? Que significa, segundo outra versão, estar
Daniel em sua sorte? Os que afirmam que os dias são os 1.335 anos são levados a
essa aplicação porque não olham atrás, além do versículo anterior, onde os
1.335 dias são mencionados. Ao passo que para interpretarem esses dias tão
indefinidamente introduzidos, deve certamente considerar-se todo o alcance da
profecia desde o capítulo 8 de Daniel. Os capítulos 9, 10, 11 e 12 são
claramente uma continuação e explicação da visão de Daniel 8. Daí podermos
dizer que na visão do capítulo 8, conforme a temos seguido e explicado, há
quatro períodos proféticos: os 2.300, os 1.260, os 1.290 e os 1.335 dias. O
primeiro é o período principal e o mais longo; os outros são apenas partes
intermediárias e subdivisões do primeiro. Agora, quando o anjo diz a Daniel, ao
concluir suas instruções, que o profeta estará em sua sorte até o fim dos dias,
sem especificar a que período se referia, não se volveria naturalmente a
atenção de Daniel para o período principal e mais longo, os 2.300 dias, em vez
de a qualquer de suas subdivisões? Nesse caso, os 2.300 dias são o período
indicado. A tradução dos Setenta parece apontar claramente nesta direção: “Tu,
porém, segue teu caminho e descansa; porque há ainda dias e estações até o
pleno cumprimento [destas coisas]; e te levantarás em tua sorte no fim dos
dias.” Isto certamente nos faz lembrar o longo período contido na primeira
visão, em relação com a qual foram dadas as instruções subsequentes.
Como já se demonstrou, os 2300 dias terminaram
em 1844 e nos levaram à purificação do santuário. Como Daniel se levantou em
sua sorte nesse tempo? Na pessoa de seu Advogado, nosso grande Sumo Sacerdote,
que apresenta os casos dos justos para que sejam aceitos por Seu Pai. A palavra
aqui traduzida como “sorte” não significa parcela de propriedade imóvel, lote
de terra, mas as “decisões” da sorte ou as “determinações da Providência.” No
fim dos dias, a sorte seria lançada, por assim dizer. Em outras palavras,
decidir-se-ia quem seria havido por digno de entrar na posse da herança
celestial. Quando o caso de Daniel se apresenta a exame, ele é achado justo,
subsiste e lhe é destinado um lugar na Canaã celestial.
Quando Israel estava para entrar na Terra
Prometida, lançaram sortes e a cada tribo foi designada sua possessão. As
tribos estiveram assim em suas “sortes”’ muito antes de entrarem realmente na
posse da terra. O tempo da purificação do santuário corresponde a este período
da história de Israel. Estamos agora nos limites da Canaã celestial e estão
sendo tomadas as decisões que atribuem a alguns um lugar no reino eterno, e
privam a outros para sempre daquele. Na decisão de seu caso é assegurado a
Daniel a porção de sua herança celestial. Com ele estarão também de pé todos os
fiéis. Quando este consagrado servo de Deus, que preencheu toda a sua longa
vida com nobres ações de serviço ao seu Criador, embora sobre ele se
acumulassem os mais pesados cuidados desta vida, entrar em sua recompensa pela
prática do bem, poderemos também entrar com ele no repouso.
Concluímos nossas considerações sobre este livro
com a observação de que nos proporcionou não pouca satisfação dedicar tempo e
estudo a suas profecias maravilhosas e contemplar o caráter desse homem muito
amado e o mais ilustre dos profetas. Deus não faz acepção de pessoas, e os que
manifestem um caráter como o de Daniel verão manifestar-se em sua vida o favor
divino de forma tão assinalada como ele o recebeu. Cultivemos suas virtudes
para como ele termos a aprovação de Deus enquanto vivermos nesta Terra e na
vida vindoura possamos habitar entre as criações de Sua glória infinita.
Observação:
Estudar o complemento deste assunto referente aos 1335 dias no livro Mensagem
de Jesus para os Sobreviventes, de autoria de Alziro Zarur.
Nenhum comentário:
Postar um comentário