Daniel 05 — A Escritura na Parede
Versículo
1: O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes, e bebeu vinho
na presença dos mil.
Este
capítulo descreve as cenas finais do império babilônico, a transição do ouro
para a prata na imagem do capítulo 2, e do leão para o urso na visão do
capítulo 7. Alguns supõem ter sido este banquete uma festa fixa anual em honra
de uma das divindades babilônicas. Ciro, que então sitiava Babilônia, sabendo
que a celebração se aproximava, teve-a em conta em seus planos para tomar a
cidade. Nossa tradução diz que Belsazar, tendo convidado mil dos seus grandes,
“bebeu vinho na presença dos mil.” Alguns traduzem “bebia [...] contra os mil,
dando a entender que, além de quaisquer outras fraquezas que pudesse ter tido,
o rei era, pelo menos um grande bebedor.
Versículos
2-4: Enquanto Belsazar bebia e apreciava o vinho, mandou trazer os utensílios
de ouro e de prata, que Nabucodonosor, seu pai, tirara do templo que estava em
Jerusalém, para que neles bebessem o rei, e os seus grandes, as suas mulheres e
concubinas. Então trouxeram os utensílios de ouro, que foram tirados do templo
da casa de Deus, que estava em Jerusalém e beberam neles o rei, os seus
grandes, as suas mulheres e concubinas. Beberam o vinho, e deram louvores aos
deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra.
O fato de
o rei, sob o efeito do vinho, mandar buscar os vasos sagrados tomados de
Jerusalém, pode indicar que o banquete se referia em certo sentido a vitórias
anteriores sobre os judeus. Era de esperar que o rei usasse aqueles vasos para
celebrar a vitória por meio da qual os babilônios os obtiveram. Provavelmente,
nenhum outro rei havia ido tão longe em sua impiedade. E enquanto bebiam vinho
nos vasos dedicados ao verdadeiro Deus, louvavam os seus deuses de ouro, prata,
bronze, ferro, madeira e pedra. Possivelmente, como notamos no comentário a
Daniel 3:29, celebravam a superioridade do poder de seus deuses perante o Deus
dos judeus, de cujos vasos agora bebiam em honra de suas divindades
pagãs.
Versículos
5-9: No mesmo instante, apareceram uns dedos de mão de homem e escreviam,
defronte do candeeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o rei via os
dedos que estavam escrevendo. Então, se mudou o semblante do rei, e os seus
pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus
joelhos batiam um no outro. O rei ordenou, em voz alta, que se introduzissem os
encantadores, os caldeus e os feiticeiros; falou o rei e disse aos sábios da
Babilônia: Qualquer que ler esta escritura e me declarar a sua interpretação
será vestido de púrpura, trará uma cadeia de ouro ao pescoço e será o terceiro
no meu reino. Então, entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler a
escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação. Com isto, se perturbou
muito o rei Belsazar, e mudou-se-lhe o semblante; e os seus grandes estavam
sobressaltados.
A Escritura na Parede — Nenhum fulgor de luz sobrenatural nem trovão ensurdecedor
anunciou a intervenção de Deus na ímpia orgia. Apareceu silenciosamente uma mão
traçando misteriosos caracteres na parede. Escreveu defronte do candeeiro. O
terror se apoderou do rei, porque sua consciência o acusava. Embora não
soubesse ler o escrito, sabia que não era mensagem de paz nem de bênção o que
fora traçado em letras resplandecentes na parede do seu palácio. A descrição
que o profeta faz do efeito que o temor produziu no rei, é insuperável.
Mudou-se o semblante do rei, desfaleceu-lhe o coração, dores se apoderaram dele
e tão violento era seu tremor, que seus joelhos se entrechocavam. Esqueceu-se
de sua jactância e orgia. Esqueceu-se de sua dignidade e em alta voz mandou
chamar seus astrólogos e adivinhos para que lhe revelassem o significado da
misteriosa inscrição.
Versículos
10-16: A rainha-mãe, por causa do que havia acontecido ao rei e aos seus
grandes, entrou na casa do banquete e disse: Ó rei, vive eternamente! Não te
turbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante. Há no teu reino um
homem que tem o espírito dos deuses santos; nos dias de teu pai, se achou nele
luz, e inteligência, e sabedoria como a sabedoria dos deuses; teu pai, o rei
Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos
encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros, porquanto espírito excelente, conhecimento e
inteligência, interpretação de sonhos, declaração de enigmas e solução de casos
difíceis se acharam neste Daniel, a quem o rei pusera o nome de Beltessazar;
chame-se, pois, a Daniel, e ele dará a interpretação. Então, Daniel foi
introduzido à presença do rei. Falou o rei e disse a Daniel: És tu aquele
Daniel, dos cativos de Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá? Tenho ouvido
dizer a teu respeito que o espírito dos deuses está em ti, e que em ti se acham
luz, inteligência e excelente sabedoria. Acabam de ser introduzidos à minha
presença os sábios e os encantadores, para lerem esta escritura e me fazerem
saber a sua interpretação; mas não puderam dar a interpretação destas palavras.
Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e solucionar
casos difíceis; agora, se puderes ler esta escritura e fazer-me saber a sua
interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e
serás o terceiro no meu reino.
Pelas
circunstâncias narradas aqui, parece que na corte e no palácio se haviam
esquecido de Daniel como profeta de Deus. Isto se devia, sem dúvida, a ele ter
estado ausente, a serviço do reino, em Susã, na província de Elão. (Daniel 8:1,
2, 27). Provavelmente, a invasão do país pelo exército persa o obrigaria a
voltar a Babilônia. A rainha que entrou na casa do banquete e fez saber ao rei
que havia uma pessoa a quem se dirigir em busca de conhecimento de coisas
sobrenaturais deve ter sido a rainha-mãe, filha de Nabucodonosor, que ainda
devia ter a lembrança do admirável conselho que Daniel dera no reinado de seu
pai.
Nabucodonosor
é aqui chamado pai de Belsazar, segundo o costume então comum de chamar pai
qualquer antepassado paterno e filho qualquer descendente masculino. Na
realidade, Nabucodonosor era avô de Belsazar. Quando Daniel entrou, o rei
perguntou-lhe se era um dos filhos do cativeiro de Judá. Parece ter sido
divinamente ordenado que, enquanto os grandes do reino realizavam seu ímpio
banquete em honra de seus falsos deuses, um servo do Deus verdadeiro que eles
mantinham em cativeiro fosse chamado a pronunciar o juízo que sua ímpia conduta
merecia.
Versículos
17-24: Então, respondeu Daniel e disse na presença do rei: Os teus presentes
fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outrem; todavia, lerei ao rei a
escritura e lhe farei saber a interpretação. Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor,
teu pai, o reino e grandeza, glória e majestade. Por causa da grandeza que lhe
deu, povos, nações e homens de todas as línguas tremiam e temiam diante dele;
matava a quem queria e a quem queria deixava com vida; a quem queria exaltava e
a quem queria abatia. Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito
se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e passou dele a
sua glória. Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi feito
semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses;
deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu
corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos
homens e a quem quer constitui sobre ele. Tu, Belsazar, que és seu filho, não
humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto. E te levantaste contra o
Senhor do céu, pois foram trazidos os utensílios da casa dele perante ti, e tu,
e os teus grandes, e as tuas mulheres, e as tuas concubinas bebestes vinho neles;
além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro,
de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja
mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste. Então, da
parte dele foi enviada aquela mão que traçou esta escritura.
Daniel repreende a Belsazar — Antes de tudo Daniel procura desfazer a ideia de ser
influenciado por motivos como aqueles que regiam os adivinhos e astrólogos, e
diz: “Dá os teus prêmios a outrem.” Deseja deixar bem claro que não era pela
oferta de presentes e recompensas que ele estava assumindo a tarefa de
interpretar o escrito. Então narra a experiência de Nabucodonosor, avô de
Belsazar, como é exposta no capítulo anterior. Repreendeu a Belsazar porque, embora
ele soubesse de tudo isso, não tinha humilhado seu coração, mas se havia
exaltado contra o Deus do Céu. Havia elevado sua impiedade ao ponto de profanar
os vasos sagrados de Deus, louvando deuses insensíveis, de feitura humana e
deixando de glorificar a Deus, de cujas mãos dependia seu alento. Por esta
razão, disse-lhe Daniel, é que a mão tinha sido enviada pelo Deus a Quem ele
desafiara de forma atrevida e insultante, para que traçasse aqueles caracteres
de terrível, embora oculto, significado. A seguir Daniel passa a explicar a
escritura.
Versículos
25-29: Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM.
Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele.
TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. PERES: Dividido foi o teu reino e
dado aos medos e aos persas. Então, mandou Belsazar que vestissem Daniel de
púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que passaria
a ser o terceiro no governo do seu reino.
Daniel Interpreta a Escritura — Nesta inscrição cada palavra representa uma frase curta. MENE:
“contado”; TEQUEL: “pesado”; PARSIM, do radical Peres: “dividido”. Deus, a Quem
desafiaste, tem o teu reino em Suas mãos e cortou os teus dias e acabou tua
carreira precisamente no momento em que pensavas estar no apogeu de tua
prosperidade. Tu, que elevaste o teu coração com orgulho, como o maior da
Terra, foste pesado e achado mais leve que a vaidade. O teu reino, que em teu
sonho subsistiria para sempre, fica dividido entre os inimigos que já estão
aguardando às tuas portas.
Apesar desta terrível denúncia, Belsazar não
se esqueceu de sua promessa e a seguir investiu a Daniel do manto escarlate e
da cadeia de ouro e o proclamou terceiro no governo do reino. Daniel aceitou
isso, provavelmente com o objetivo de ficar em melhores condições de cuidar dos
interesses de seu povo durante a transição do reino ao sucessivo.
Versículos
30-31: Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o
medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino.
A cena,
tão sucintamente mencionada aqui, é descrita em nossas observações sobre Daniel
2:39. Enquanto Belsazar se entregava a sua presunçosa orgia, enquanto a mão do
anjo traçava na parede do palácio a sentença condenatória do império, enquanto
Daniel dava a conhecer o terrível significado da escrita celestial, a
soldadesca persa entrava pelo esvaziado leito do Eufrates até o coração da
cidade e com suas espadas desembainhadas avançavam rapidamente para o palácio do
rei. Quase não se pode dizer que o surpreenderam, pois Deus acabara de
adverti-lo da sorte que o esperava. Mas o acharam e o mataram. E com ele o
império de Babilônia deixou de existir.
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