Daniel 03 —
A Integridade Provada pelo Fogo
Versículo 1:
O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha sessenta côvados de alto e
seis de largo; levantou-a no campo de Dura, na província de Babilônia.
Admite-se
que esta imagem, em certo sentido, se referia ao sonho do rei, descrito no
capítulo anterior. Naquele sonho a cabeça era de ouro e representava o reino de
Nabucodonosor. Sucediam-no metais de qualidade inferior, que simbolizavam uma
sucessão de reinos. Nabucodonosor sentiu-se indubitavelmente satisfeito de que
seu reino fosse representado pelo ouro; mas não lhe agradava o fato ser
sucedido por outro reino. Por isso, em vez de decidir que sua imagem tivesse só
a cabeça de ouro, ele a fez toda de ouro, para indicar que seu reino não daria
lugar a outro reino, mas se perpetuaria.
Versículos
2-7: Então o rei Nabucodonosor mandou ajuntar os sátrapas, os prefeitos e
governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e
todos os oficiais das províncias, para que viessem à consagração da imagem que
o rei Nabucodonosor tinha levantado. Então se a juntaram os sátrapas, os
prefeitos e governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros
e todos os oficiais das províncias, para a consagração da imagem que o rei
Nabucodonosor tinha levantado; e estavam de pé diante da imagem que
Nabucodonosor tinha levantado. Nisto o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se
a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: No momento em que
ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da
gaita de foles, e de toda sorte de música, vos prostrareis, e adorareis a
imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. Qualquer que se não prostrar e
não a adorar, será no mesmo instante lançado na fornalha de fogo ardente.
Portanto, quando todos os povos ouviram o som da trombeta, do pífaro, da harpa,
da cítara, do saltério, e de toda sorte de música, se prostraram os povos, nações
e homens de todas as línguas, e adoraram a imagem de ouro que o rei
Nabucodonosor tinha levantado.
Dedicação da Imagem — A dedicação desta imagem tornou-se uma grande ocasião,
pois foram convocados os homens principais de todo o reino. A tantos esforços e
gastos os homens se dispõem para sustentar os sistemas de culto idólatras e
pagãos. Quão lastimável é que os que têm a verdadeira religião sejam tão
suplantados neste particular pelos que sustentam o falso e o espúrio! A
adoração era acompanhada de música; e quem quer que dela não participasse
via-se ameaçado de ser lançado na fornalha ardente. Tais são sempre os motivos
mais fortes empregados para impelir os homens em qualquer direção; de um lado o
prazer, do outro a dor.
Versículos 8-12: Ora, no mesmo instante, se chegaram alguns homens
caldeus e acusaram os judeus; disseram ao rei Nabucodonosor: Ó rei, vive
eternamente! Tu, ó rei, baixaste um decreto pelo qual todo homem que ouvisse o
som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles
e de toda sorte de música se prostraria e adoraria a imagem de ouro; e qualquer
que não se prostrasse e não adorasse seria lançado na fornalha de fogo ardente.
Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província da
Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram
caso de ti, a teus deuses não servem, nem adoram a imagem de ouro que
levantaste.
Três Hebreus Provados — Os caldeus que acusaram aos judeus eram provavelmente da
seita de filósofos conhecida por esse nome, ainda afligidos pelo ressentimento
do ignominioso fracasso que sofreram quando não puderam interpretar o sonho do
rei relatado em Daniel 2. Avidamente queriam aproveitar qualquer pretexto para
acusar os judeus perante o rei para conseguir sua desonra ou morte. Influíram
nos preconceitos do rei, insinuando insistentemente que esses hebreus eram
ingratos. Queriam dizer: “Tu os encarregaste dos negócios de Babilônia, e eles
te desprezaram.” Não se sabe onde estava Daniel nessa ocasião. É provável que
estivesse ausente, cuidando de algum negócio do império. Mas por que estavam
presentes Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, sabendo que não podiam adorar a
imagem? Não era porque estavam dispostos a cumprir as exigências do rei até
onde lhes fosse possível sem comprometer seus princípios religiosos? O rei
exigia que estivessem presentes. Isso eles podiam cumprir, e o fizeram. Exigiu
que adorassem a imagem. Isso lhes era vedado por sua religião e se negaram a
fazê-lo.
Versículos 13-18: Então, Nabucodonosor, irado e furioso, mandou
chamar Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. E trouxeram a estes homens perante o
rei. Falou Nabucodonosor e lhes disse: É verdade, ó Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que
levantei? Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som da trombeta, do
pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e
adorai a imagem que fiz; porém, se não a adorardes, sereis, no mesmo instante,
lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderá livrar das
minhas mãos? Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: Ó
Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus,
a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e
das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus
deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.
A
tolerância do rei se nota no fato de haver concedido a Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego outra oportunidade após sua primeira negativa a cumprir-lhe as
exigências. Sem dúvida eles compreendiam plenamente o assunto. Não podiam
alegar ignorância. Sabiam exatamente o que o rei queria, e não lhe obedeciam
por recusa intencional e deliberada. No caso da maioria dos reis isso teria
bastado para selar a sorte deles. Mas Nabucodonosor disse: Não; relevarei esta
ofensa se numa segunda prova cumprirem a lei. Eles, porém, informaram ao rei
que ele não precisava dar-se ao trabalho de repetir a prova. Sua resposta foi
honesta e decisiva: “Quanto a isto” — disseram — “não necessitamos de te
responder”, Quer dizer, não precisas conceder-nos o favor de outra prova; nossa
decisão está tomada. Podemos tão bem responder-te agora como em qualquer
momento futuro; e nossa resposta é: “Não serviremos a teus deuses, nem
adoraremos a imagem de ouro que levantaste. Nosso Deus pode livrar-nos, se
quiser; mas se não o fizer, não nos queixaremos. Conhecemos Sua vontade, e a
ela obedeceremos incondicionalmente.”
Versículos
19-25: “Então, Nabucodonosor se encheu de fúria e, transtornado o aspecto do
seu rosto contra Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, ordenou que se acendesse a
fornalha sete vezes mais do que se costumava. Ordenou aos homens mais poderosos que estavam no seu
exército que atassem a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego e os lançassem na
fornalha de fogo ardente. Então, estes homens foram atados com os seus mantos,
suas túnicas e chapéus e suas outras roupas e foram lançados na fornalha
sobremaneira acesa. Porque a palavra do rei era urgente e a fornalha estava
sobremaneira acesa, as chamas do fogo mataram os homens que lançaram de cima
para dentro a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Estes três homens, Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego, caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa.
Então, o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos
seus conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo?
Responderam ao rei: É verdade, ó rei. Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo
quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o
aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.
Nabucodonosor
não estava inteiramente isento das faltas e insensatez em que tão facilmente
incorre um monarca absoluto. Embriagado pelo poder ilimitado, não podia
suportar desobediência ou contradição. Mesmo que fosse por bons motivos, se
alguém lhe resistia à autoridade expressa, Nabucodonosor manifestava a fraqueza
que em tais circunstâncias é comum entre a humanidade caída, e se enfurecia.
Embora dominasse o mundo, o rei não sabia cumprir a tarefa ainda mais difícil
de dominar seu próprio espírito. Seu rosto ficou transtornado. Em vez do
domínio próprio da aparência serena e digna que devia ter conservado, deixou
transparecer, na expressão e nos atos, que era escravo de ingovernável paixão.
Lançados na fornalha de
fogo — A fornalha foi aquecida
sete vezes mais do que de costume, ou seja, até o máximo. Nisto o rei anulava
seu propósito; pois mesmo que o fogo tivesse sobre as pessoas nele lançadas o
efeito esperado, só as teria destruído mais depressa. O rei nada ganharia com
seu furor. Mas ao serem libertos desse efeito, muito foi ganho para a causa de
Deus e Sua verdade; pois quanto mais intenso o calor, tanto maior e mais
impressionante o milagre de os jovens serem livrados dele.
Cada circunstância revelou o direto poder de
Deus. Os hebreus foram atados com todas as suas vestes; mas saíram sem sequer
passar sobre eles o cheiro do fogo. Os homens mais fortes do exército foram escolhidos
para os lançarem na fornalha; mas o fogo matou aqueles homens antes de entrarem
em contato com ele, ao passo que sobre os hebreus não teve efeito, embora
estivessem bem no meio das chamas. É evidente que o fogo se achava sob o
domínio de algum ser sobrenatural, pois embora tivesse consumido as cordas com
que eles foram atados, de modo que ficaram livres para andar no meio do fogo,
nem sequer lhes chamuscou as vestes. Não saltaram do fogo assim que ficaram
livres, mas nele continuaram; pois, em primeiro lugar, o rei os mandara colocar
ali, e competia-lhe convidá-los a sair. Além disso, havia uma quarta pessoa com
eles, e em Sua presença podiam estar tão contentes e alegres na fornalha de
fogo, como nas delícias e nos luxos do palácio. Oxalá que em todas as nossas
provas, aflições, perseguições e apertos tenhamos a companhia daquela Quarta
Pessoa, e nos será suficiente!
O Rei Adquire uma Nova
Visão —
O rei disse: “O aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.” Alguns
pensam que esta linguagem se refere a Cristo. O significado mais literal é que
tinha aspecto de ser divino. Mas embora esta fosse a maneira como Nabucodonosor
tinha por hábito referir-se aos deuses que adorava (ver os comentários sobre
Daniel 4:18) isso não é base para crer que a expressão possa referir-se a
Cristo, porque a palavra elahin, aqui empregada em sua forma caldeia, embora
no plural, traduz-se por Deus em todo o Antigo Testamento.
Que contundente repreensão à insensatez e
loucura do rei foi o livramento daqueles nobres jovens da fornalha ardente! Um
poder superior a qualquer outro da Terra tinha vindicado os que permaneceram
firmes contra a idolatria e desprezado o culto e as exigências do rei. Nenhum
dos deuses pagãos jamais havia efetuado nem jamais podia efetuar semelhante
livramento.
Versículos
26-30: Então, se chegou Nabucodonosor à porta da fornalha sobremaneira acesa,
falou e disse: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e
vinde! Então, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo. Ajuntaram-se os sátrapas, os
prefeitos, os governadores e conselheiros do rei e viram que o fogo não teve
poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram chamuscados os cabelos da
sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre
eles. Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que confiaram nele,
pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a
servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus. Portanto, faço um
decreto pelo qual todo povo, nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus
de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seja despedaçado, e as suas casas sejam
feitas em monturo; porque não há outro deus que possa livrar como este. Então,
o rei fez prosperar a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na província da Babilônia.
Ao
receberem a ordem, os três homens saíram da fornalha. Então os príncipes, os
governadores, e os conselheiros do rei, por cujo conselho ou assentimento,
haviam sido lançados no fogo, pois o rei disse: “Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo?” (versículo 24), se
reuniram para ver esses homens e obterem a prova visível e tangível de sua
milagrosa preservação. Todos se esqueceram do culto da grande imagem. Todo o
interesse desse vasto concurso de pessoas se concentrou nesses três homens
notáveis. Como se deve ter difundido por todo o império o conhecimento desse
livramento quando as pessoas voltaram a suas províncias! Que notável exemplo de
haver Deus feito a ira do homem redundar em Seu louvor!
O Rei Reconhece o Verdadeiro Deus — Então o rei bendisse o Deus de
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, e decretou que ninguém falasse contra Ele. Sem
dúvida os caldeus tinham falado contra Deus. Naqueles dias, cada nação tinha
seu deus ou seus deuses, pois havia “muitos deuses e muitos senhores”. A
vitória de uma nação sobre outra supunha-se ocorrer porque os deuses da nação
vencida não podiam livrá-la de seus conquistadores. Os judeus tinham sido
completamente subjugados pelos babilônios, e sem dúvida estes tinham falado
desdenhosamente do Deus dos judeus. Isso o rei agora proibia, pois compreendia
claramente que seu êxito contra os judeus se devia aos pecados deles e não por
falta de poder do seu Deus. A que conspícua e exaltada luz isso colocava o Deus
dos hebreus em comparação com os deuses das nações! Era um reconhecimento de
que Ele considerava os homens receptivos a alguma elevada norma de caráter
moral e não via com indiferença suas ações em referência a ela.
Nabucodonosor procedeu bem ao exaltar
publicamente o Deus do céu acima dos demais deuses. Não tinha, porém, direito
civil ou moral de impor a seus súditos uma confissão e reverência semelhante,
nem de ameaçar de morte aos que não adorassem o verdadeiro Deus como tinha
feito com os que se negassem adorar sua imagem de ouro.
Três Hebreus Promovidos — O rei promoveu os jovens cativos, isto é, restituiu-lhes
os cargos que haviam ocupado antes de serem acusados de desobediência e
traição. Ao fim do versículo 30, a Septuaginta acrescenta: “E os elevou a
governadores sobre todos os judeus que havia em seu reino.” O rei não mais
insistiu na adoração de sua imagem.
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